
Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens. Tomando a palavra, disse-lhes:
“Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque eles...”
Mas Pedro o interrompeu:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?
André disse:
- É pra copiar no caderno?
Filipe lamentou-se:
- Esqueci meu papiro!
Bartolomeu quis saber:
- Vai cair na prova?
João levantou a mão:
- Posso ir ao banheiro?
Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?
Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!
Tomé questionou:
- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?
Tiago Maior indagou:
- Vai valer nota?
Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.
Simão Zelote gritou, nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?
Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso? E a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos? Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?
Caifás emendou:
Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?
Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nossso projeto.
E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é professor titular...
Jesus deu um suspiro profundo, pensou em ir à sinagoga e pedir aposentadoria propocional aos trinta e três anos. Mas, tendo em vista o fator previdenciário e a regra dos 95, desistiu.
Pensou em pegar um empréstimo consignado com Zaqueu, voltar pra Nazaré e montar uma padaria...
Mas olhou de novo a multidão. Eram como ovelhas sem pastor... Seu coração de educador se enterneceu e Ele continuou:
“Felizes vocês, se forem desrespeitados e perseguidos, se disserem mentiras contra vocês por causa da Educação. Fiquem alegres e contentes, porque será grande a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram outros educadores que vieram antes de vocês”.
Tomé, sempre resmungão: reclamou:
- Mas só no céu, Senhor?
- Tem razão, Tomé - disse Jesus - há quem queira transformar minhas palavras em conformismo e alienação. Eu lhes digo, NÃO!
Não se acomodem. Não fiquem esperando, de braços cruzados, uma recompensa do além. É preciso construir o paraíso aqui e agora, para merecer o que vem depois...
E Jesus concluiu:
Vocês, meus queridos educadores, são o sal da terra e a luz do mundo...
E todos disseram:
- Amém!
Eduardo Machado

A força do jogo não está no jogo, mas em sua apropriação social. Boa parte do que faz o MW um jogo forte são as várias "famílias" construídas pelos usuários, que permitem uma série de inovações sociais que não existem no mecanismo do jogo em si. Por exemplo, as famílias declaram "guerra" entre si, possuem códigos de honra e empregos especiais. Dentro de uma família é possível ser um espião, trabalho que não existe no jogo em si. Há famílias com códigos de ética bem fortes, como por exemplo, atacar jogadores com atitudes racistas ou consideradas não de bom tom (mesmo o nome do jogador pode ser um motivo para ataque). Há famílias inimigas, há associadas, há traições, há mafias secretas. Do mesmo modo, dentro das famílias há níveis hierárquicos e grupos de usuários responsáveis por funções específicas. Assim, há recompensas e promoções e toda uma hierarquia que torna o jogo mais interessante, mas que não passa por ele, nem por sua plataforma e nem pelos seus mecanismos. Vejam, portanto, que o jogo vai além do jogo, ou seja, a plataforma do MW é simplesmente um dos variados espaços de representações e construção de capital social criados pelos jogadores, mas há outros. Ou seja, o núcleo da comunidade dos jogadores é responsável pela criação de novas formas de capital social e renovação das mesmas, gerando valores que vão, depois, circular pelas zonas mais periféricas das redes sociais.
Conversando com os jogadores, todos parecem perceber que essas práticas são construídas como comuns no jogo. Não se espera que um amigo "do jogo" seja também um amigo do Facebook. Muitos, inclusive, criam variados perfis para os variados jogos, como forma de preservar a privacidade do perfil "original". Outros ainda usam o mesmo perfil, mas sempre com o cuidado de deletar imediatamente os novos amigos, tão logo apareçam na "mafia" do jogo. Ter amigos no jogo é um valor não apenas para as lutas (amigos aumentam o poder de ataque e de defesa), mas igualmente na busca pelos diversos ítens que podem ser colecionados, dados e recebidos e mesmo divididos com os jogadores. Logo, há toda uma série de valores associados ao tamanho da rede social, mas quase nenhum associado à qualidade dela. E isso é bastante diferente daquilo que observamos nas redes sociais offline, onde a qualidade dos laços promove valores importantes. É por isso que os usuários rapidamente criam formas diferenciadas de apropriar o jogo e construir novas redes sociais, que não necessariamente possuem qualquer relação com suas redes offline. É interessante perceber, assim, o caráter mais utilitário desses novos grupos, focados unicamente na apropriação do capital social pelo indivíduo, algo que nas redes offline é muito difícil, pois compreende um custo alto.